sábado, 6 de dezembro de 2008

Por que explicar?

Eu devo mesmo ser feita de um material diferente daquele que se usou para fazer as outras pessoas. Não que o que foi usado para me fabricar seja melhor do que o utilizado na produção da maioria das outras pessoas mas, definitivamente, devo ser mesmo esquisita. Mais uma vez: calma, eu explico.
Enquanto a grande maioria dos jornalistas corre desesperadamente em busca de definições precisas sobre as coisas, eu vibro quando bato de frente com algo sobre o qual não consigo enunciar os atributos, algo para o qual não encontro adjetivos, uma coisa que não sei explicar. Isso me desafia todos os dias, há uma luzinha que liga sempre que encontro um personagem indecifrável, num contexto discrepante.
Quem consegue precisar o que acontece quando um arrepio percorre o corpo todo sempre que a gente escuta uma música que gosta muito? É possível definir com, pelo menos três adjetivos, o que é o frio na barriga, a taquicardia, a boca seca e o choro que vem do riso? Pode ser que alguém conte uma história na tentativa de estabelecer, limitar, demarcar, definir o que são todas essas sensações. Mas dificilmente ela será tão fiel, tão precisa, tão legítima quanto a certeza que tem aquele que vive qualquer um desses momentos inexplicáveis. O que é, enfim, uma epifania para você?
Pois a graça, para mim, está justamente nisso, em não saber dizer se o gosto é de amora ou de ameixa. Se o esmalte é vermelho, rosa forte ou cor-de-goiaba. A graça é não buscar a razão para não quebrar o encanto, não deixar diminuir, perder o brilho.
O jeito mais claro de explicar o que estou querendo dizer é o gostar gratuito. Não existem aquelas pessoas com quem a gente nunca trocou uma palavra mas que simpatiza, vai com a cara gratuitamente? O cidadão não faz absolutamente nada para conquistar, mas a gente gosta, sorri e inconscientemente agradece por dividir um instante. Mas o bem-querer gratuito só vale se a gente não tentar entender o porquê de gostar. Não faz sentido listar uma série de razões para a empatia, para essa coisa boa. E acho que o verdadeiro amor começa de um gostar inexplicável assim. Sem essa de elencar predicados do eleito que expliquem o interesse, a motivação e até mesmo a cafonice que vem embutida com os romances.
Já expliquei demais. Esses devaneios a gente não explica... a graça está em não entender, não ter certeza mesmo...

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