domingo, 28 de setembro de 2008

Eles dizem "sim"

O casamento voltou à moda, definitivamente.
Hoje mesmo me dei conta de que, neste final de semana, boa parte das conversas que tive, ou dos eventos que fui, estavam relacionados, de uma forma ou de outra, ao enlace de duas histórias.
Tudo começou com um casamento coletivo em Canoas. Naquele sábado ensolarado (um casamento primaveril, como diria a Bebel), cem casais de baixa renda disseram o tão esperado "sim".
Com direito a tapete vermelho, chuva de prata e música romântica (Roberto Carlos Cover!), pessoas que já haviam confirmado seu desejo de viverem juntas no dia-a-dia, sem ritual, sem roupa bonita e sem espectadores, fizeram isso perante a lei e alguma religião.
Sem entrar no mérito de se o casamento garante ou não a longevidade do amor e todas aquelas discussões, ainda assim acho bacana quem se compromete.
Depois, no final do dia, conversando com duas amigas queridas, numa sessão de fotos e álbuns antigos, vi registros de um casamento que aconteceu há mais de 25 anos. Se o matromônio durou ou não "até que a morte os separe" é apenas um detalhe. O encantador foi imaginar que sonhos aquele casal tinha quando prometeu amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença e tudo mais... O vestido da noiva poderia ser usado hoje com a maior garantia de elegância. Os rostos jovens e sorridentes capturados naquelas imagens dizem mais do sentimento que qualquer declaração ou papel.
E isso sobrevive, independente dos rumos que a vida ganha.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

É pra somar!

Pessoas de extremos, como eu, deveriam pensar na influência do "ou" e do "e" na vida cotidiana. Exercitando um "ou" outro, sabendo usar, dizem que o humor, o estado de espírito e até os soluços melhoram.
Calma, eu explico. Até porque eu preciso entender primeiro para, só depois, colocar em prática. Infelizmente, meu aprendizado se dá assim.
"Ou" eu amo, "ou" eu não amo. Isso. Num trabalho, ou é 100% de energia e tesão empregados "ou" é 0% de motivação, por favor, não me chamem. "Ou" tenho amigos para todas as horas, "ou" não tenho amigos (nem sempre a gente tem saco para conviver com amigos grudentos, com papo cabeça e "que fazem a diferença" o tempo inteiro. Até que é bom ter amigos mais lights, sem cobranças, sem julgamentos, de acordo com a maré).
Durante muito tempo achei que isso era uma marca, algo que designava pessoas fortes, com opinião, decididas. De extremos, melhor dizendo. Não havia variação do tipo: 54,38% apaixonada, 23,16% a fim de trabalhar e 33,33% cansada da vida que eu levo. Era 100% "ou" 0%. Era on "ou" off. Somente.
Mas o que a gente nem sempre pensa é que o "ou" designa exclusão. Tá lá, no dicionário, é a única alternativa possível. Não existe meio-termo. E, muito menos o tão sonhado (e, às vezes, inalcançável) equilíbrio.
Nessas, a gente perde boas oportunidades, dispensa pessoas, reina absoluto na redoma que contrói. Tanta intensidade (ou ausência dela) para nada.
Pois então falemos do "e". É fácil perceber a diferença entre amboa. O "e" soma, é aditivo. É menos firme, mas é mais agregativo. Ele aumenta as opções, não aposta no tudo "ou" no nada, mas, sim, em um pouquinho de tudo, sem se levar tão a sério.
Pois no lugar de ir "ou" não ir a um parque caminhar, a gente pode ir "e" convidar um amigo para passear. Com o "e", as possibilidades são ampliadas, assim como os riscos, é claro. Só que sem risco, perde a graça.
Talvez esses escritos sejam óbvios para muita gente. Não importa. O vale é que leiam "e" pensem, assim como eu fiz agora. Pois não se trata de um texto para gostar "ou" não gostar.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Quando estou amando

Ser espectador da vida dos outros deve ser algo muito desolador.
Foi isso que senti quando assisti Quando estou amando (Quand j'étais chanteur, de 2006) no último domingo.
O filme conta a história de um cantor de bailes cinquentão (que faz mechas nos cabelos cuidadosamente penteados e displicentemente crescidos) que se apaixona por uma corretora de seguros (beeeeeeem mais nova, recém-divorciada.
Até aí, tudo normal.
Mas tem o lance da diferença de idade, da confusão da vida dela (com um filho pequeno que a rejeita), sua beleza e a carência imensa de ambos. E mesmo com tudo para dar em dor-de-cotovelo, o cantor Alain Moreau encontra em sua amada (platônica) um motivo forte e irrefutável para cantar, cantar muito, expressar todo o seu romantismo e sua cafonice nos palcos da vida.
Até que ele, de cima do palco, assiste sua musa envolvida (superficialmente, apenas por uma noite) com outro monsieur.
Realmente é dolorido demais assistir a felicidade de quem a gente ama. Os mais altruístas até podem dizer que não, que desejam todo o bem para seus amados (mesmo que isso aconteça ao lado de terceiros), mas não é fácil cantar uma balada para embalar momentos importantes nas histórias dos outros.
Antes que pensem que o filme é baixo astral, garanto que é bem o contrário. É comovente à sua maneira, tem aquele clima de baile que eu acho muito legal (apesar de já não existirem mais essas noitadas, pelo menos não aqui, talvez em Paris ainda existam...), sem ser piegas.
E tem aquela coisa: "Quando se está amando", todo mundo fica um pouquinho cafona, um pouquinho piegas e um tanto sem noção.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Paciência

Um dos meus cantores favoritos, o Lenine, tá com uma música dele embalando um comercial de tevê (não me perguntem do que se trata a propaganda porque eu não sei dizer). Cada vez que aparece o tal anúncio e trechos de Paciência começam a tocar, paro tudo.
Essa música já tocou em novela, já foi executada naquele projeto acústico da MTV e acho até que o próprio Lenine já perdeu a paciência com ela (ai, desculpem o trocadilho... saiu sem querer...).
Mas os versos são importantes, não são datados. Eles alertam sobre algo que, com essa rotina idiota, que se impõe todos os dias, quando "o mundo vai girando cada vez mais veloz", a gente não consegue ver: a urgência da vida. Falta alma, falta a parte imortal, o sentimento, o entusiasmo, a coragem, a disposição, a expressividade... Falta vida.
E lá vai, então, o Lenine: com seu sotaque melodioso, tem calma, "faz hora, vai na valsa". E finge ter paciência.
Aí é que deve estar o segredo.

Será que é tempo que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara tão rara...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Paris, eu te amo

Com um certo atraso, assisti hoje Paris, je t'aime. A cidade do amor, ou a cidade luz, sobre a qual tenho lido muito e sonhado muito, é apresentada a partir do olhar de 20 cineastas.
Para quem espera um filme corrido, com histórias amarradas, Paris je t'aime pode ser chato ou desconexo. Mas de qualquer forma, nos 20 curtas de apenas cinco minutos há o comportamento parisiense, há todo aquele cenário, com direito a torre, cafés, cemitérios e todo o encantamento e charme que só a capital da França tem.
Eu destacaria a pequena história vivida por Natalie Portman (Francine, do segmento "Faubourg Saint-Denis"), uma jovem atriz que tem um romance com um cego. Os altos e baixos da relação aparecem em forma de lista, como se tudo não passasse de uma cena ensaiada por ela.

Não lembro exatamente das falas, mas uma delas trata-se de algo do tipo: "A gente se abraça, se beija, se aproxima. Nós nadamos, eu estudo pras provas, ela grita. Vamos ao cinema, ela ensaia. A gente se abraça, se beija, ela grita (com razão e sem razão), a gente discute. Eu estudo pras provas, não vamos mais ao cinema, não nos beijamos..."

Fiquei pensando se todas as histórias (de amor ou não) podem ser contadas assim, feito listas de tarefas, com exatos começo, meio e fim. Tudo parece estanque, sem emoção, mas também sem sofrimento, sem dúvida e sem atitudes sem sentido. Tudo parte de um script.
O problema é quando a gente teima em querer mudar, reescrever as cenas com as próprias palavras.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

La Faute à Fidel!

Hoje, a pequena Ana, uma francesinha que tem sua vida posta de cabeça para baixo depois que os pais simpáticos ao socialismo decidem se engajar na luta contra os facistas do mundo inteiro, me fez lembrar de mim.
Eu não perdi a casa onde morava na infância para ficar apertada em um minúsculo apartamento, nem fui proibida de assistir às aulas de ensino religioso no colégio de freiras onde estudei e nem tive babás estranhas, a maioria refugiadas.
O que me fez me ver na telona foi a necessidade que aquela pirralhinha de nove anos tinha de entender tudo o que se passava com a sua família, na sua frente, com o entra-e-sai de "barbudos" "vermelhos e comunistas". Eu sempre quis saber mais do que era permitido para a minha idade (lembro de um livro proibido até! - antes mesmo de "ficar grande" descobri que se tratava daqueles segredos guardados pelos adultos: como as crianças nascem, a verdade sobre coelho da Páscoa, Papai Noel e tudo mais).
Assim como a Ana - que pegou o pai de supresa querendo saber o que houve em maio de 1968, e a mãe, indagando sobre o que é o aborto - eu não me contentava com aquela conversinha de adulto despistando criança curiosa.
Com esse hábito desde a infância, me eduquei a desconfiar, a ser curiosa (na medida certa, tenho certeza) e, mais que tudo, estudar para saber questionar. A francesinha Ana, nos anos 70, além de abelhuda, tinha uma percepção e tanto, não sossegava com ordens com as quais não concordava simplesmente por serem ordens sem argumentos.
No fim das contas, mais que mostrar a esquerda, o filme combina sensibilidade e humor. De todos os conceitos que Ana tentou aprender, talvez a solidariedade tenha sido o valor mais importante e mais bonito que ela descobriu.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O que realmente vale a pena

A intenção não é plagiar e nem repetir a idéia daquela propaganda de cartão de crédito que diz que isso ou aquilo não têm preço. Mas não dá pra deixar de referir as coisas incríveis que a gente só pode fazer quando está de férias. E não há dinheiro que pague, realmente.
São coisinhas prosaicas, não são de difícil realização, não é preciso ter um grande dinheiro para tal e nem necessita de que o cidadão vá para lugares distantes e abarrotados de gente. Ser dono do próprio tempo é, sem dúvida, um luxo.
Hoje eu naturalmente me dei três presentinhos desses.
O primeiro deles foi ficar de prosa com uma amiga querida, atirada numa poltrona, e tomando um chazinho durante três horas ininterruptas. O segundo foi, no meio da tarde, sentar em um café para "olhar o movimento". Ah, o passatempo ficou bem melhor sem relógio e com uma xícara de café, é claro. E, por fim, voltar para casa dos meus pais trazendo um agradinho para todos. Sério, isso pode ser banal para alguém, mas adoro agradar quem eu curto.
Aí é que vem a questão: Por que a gente tem que esperar o ano inteiro para ter tempo de se agradar? Tenho certeza de que, se as pessoas tivessem um tempinho para qualquer dessas atitudes que realmente valem a pena, seriam 1000% mais produtivas. Mas não. Preferem todo mundo acabado, estressado, no limite.
Me alegra saber que tenho alguns vários dias de nada-pra-fazer-sem-culpa.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Indiadas

Ver o Parque de Exposições Assis Brasil lotado (no domingo foram mais de 93 mil pessoas), em mais uma edição da Expointer, me faz lembrar de algumas histórias de piá. Hoje, depois de adulta, só entro na feira para trabalhar. Mas sempre me recordo das mesmas cenas.
Na adolescência, com uma turma, qualquer lugar fica interessante e engraçado. Visitar uma feira agropecuária (a maior da América Latina) não é exatamente o programa mais indicado para os aborrescentes, mas a gente adorava porque a cidade deixava de ser pacata.
Eu lembro de ter batido um recorde: fui nos dois sábados e domingos, na terça-feira com o colégio e na quinta-feira com a minha avó. Fora quando resolvia acompanhar o meu pai no domingo de manhã porque ele queria fugir da muvuca.
A gente nem sequer olhava os animais. Eu tinha medo de passar pelo meio daqueles touros deitados, sem nenhuma cerca, também não curtia aquele "aroma" do campo e ninguém "interessante" estaria naqueles pavilhões. Resumindo, a pirralhada ficava em algum bar (o do Lions era o point) ou ia direto para o parque de diversões.
Era lá que os casinhos marcavam de se encontrar (uma vez achei um pretendente na frente do Crazy Dance e tocava a música Tão Seu, do Skank! hahaha), ou a gente ficava admirando a coragem de quem topava andar nos brinquedos mais altos. Fui obrigada no kamikaze e quase morri gritando.
Como sempre chovia, ficava aquele barro por todos os lados. Mesmo sujos, mortos de cansaço, depois de percorrer pavilhões de artesanato, zanzar pelo parque todo, comer morango com chocolate, cocadas e beber capeta, não queríamos ir embora. Só quando as luzes começavam a se apagar, os animais começavam a ser guardados e as maçãs-do-amor vendidas em promoção, a gente resolvia ir embora.
Nostalgia boa. Quando a única preocupação que se tem na vida é passar por média no 4º bimestre, é mais fácil gostar de tudo e encarar essas e outras indiadas.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Mil e uma utilidades

Sabe quando você emprega uma boa dose de energia em algo que não se transforma em nada de importante? Não é raro aparecer aquele gostinho de frustração, de não estar realizando absolutamente nada de útil.
Pois para chutar (literalmente) o marasmo e tentar ser uma pessoa melhor (eu já disse isso), decidi, há poucas semanas, começar a estudar kung fu. Antes que mentes engraçadinhas pensem que foi motivada pelo filme do ursinho panda, eu afirmo que é mais uma tentativa de encontrar algo que me agrade e acalme ao mesmo tempo. Não é exatamente sossego que eu quero, mas um lugar onde as pessoas não passem o tempo inteiro adorando suas bundas, peitos, pernas e braços. Se der pra suar um pouco e aprender algo de válido para o meu dia-a-dia, supimpa.
A coisa é toda cercada pelo ritual. Desde a roupa (ainda não tenho o uniforme oficial do lutador de kung fu, mas as cores da roupa são determinadas) até a forma de cumprimentar as pessoas, se colocar diante dos mestres, tudo faz sentido. Na chegada já comecei a gostar.
Depois tem a coisa do corpo, de treiná-lo para suportar a dor, do condicionamento físico propriamente dito. Quem olha de fora pode não entender o que aqueles chutes e socos podem ter de tão interessante, mas foi dessa arte marcial que veio da China que eu gostei, finalmente.
Ainda não tenho faixa alguma (a branca é a primeira), mas isso não importa. Quero perseguir a precisão do movimento, da concentração, da filosofia da coisa.
Um esporte com mil e uma utilidades: desenvolve a coordenação motora, a força, a resistência, a flexibilidade, o ritmo. Também proporciona maior segurança, tranquilidade e controle das ações, desenvolvimento do raciocínio, os reflexos, atenção e concentração mental.
Era tudo o que eu queria.