quinta-feira, 31 de julho de 2008

De tudo um pouco

Eu ainda não falo francês. Mas em breve estarei pronunciando muitas palavras desse idioma que acho lindo desde a infância. De uns tempos pra cá, tenho visto tantos filmes franceses, ouvido músicas e acalento o sonho de conhecer Paris. Mas quero me sentir um deles. Por isso, meu objetivo de agora em diante é falar francês.
Para isso, fiz hoje minha matrícula na Aliança Francesa. Minha mãe me escreve bilhetinhos carinhosos usando palavrinhas que aprendemos em um cursinho rápido, de um semestre. Mas eu quero mais.

...

O que eu disse que viria a seguir, com muitas raivas e ódios passageiros e duradouros, eu explico: mediocridade. Gente mesquinha. Gente sem cor. Gente imbecil. Queria ter um dia de fúria e dizer: fulano, tu és um fraco, um ninguém, um zero à esquerda. Tua ausência preenche uma lacuna. Beltrana, sua pseudo-qualquer-coisa, sem graça, sem cheiro, sem noção. E por aí vai.
Mas não vale a pena. Nessa nova fase da minha vida, que está prestes a começar, e vai começar com o pé direito, tenho certeza, serei apenas contemplativa. Isso. Essas pessoas menores, esses comentários desnecessários, ridículos, a arrogância, enfim, irão para um lugar nenhum. Farei que nem a vó Irene que dizia: "Deixa!" Abaixando a palma da mão, sem se importar com nada. Deixa!

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Eu devo ter a quem puxar mesmo. Meu pai acaba de voltar de uma convenção de uma das empresas que ele representa aqui. Essas coisas de firma, de gincana, de integração. Até aí, tudo bem. Mas ele é um alemão sério, de poucas palavras e até um pouco desconfiado. De tudo e de todos. Pois acabo de ter a confirmação que ele, com seus 58 anos a serem completados em setembro, pulou de uma altura absurda, como um pêndulo gigante de relógio. Sim, ele teve coragem para isso e andou em todos os brinquedos de um super parque de diversões que tinha no tal lugar.
O que eu quero dizer com isso: surpreender-se. Surpreender aos outros. Se não tivesse ouvido do meu irmão que estava lá, não acreditaria. Tá, o velho pesca, gosta de esportes, mas a adrenalina de tirar um peixe (por mais pesado que seja) da água é diferente de uma queda livre... E o melhor: a criança grande adorou. Parabéns, paizinho.

Primeiro a parte boa

Como estou com uma "raivinha", como diz a Lú Bemfica, de algumas coisas e pessoas, para não ficar um post cheio de ódios (passageiros e duradouros), resolvi escrever sobre algo que me chamou atenção na noite de ontem. A seguir, o post de ódios.

Como minha geladeira estava numa "fartura", fartando absolutamente tudo, resolvi ir ao súper. Pra mim, isso não é um sacrifício, ao contrário, curto horrores, descubro coisinhas e coloco em prática todas as dicas que recebo de economistas domésticos sempre que faço matérias sobre o tema (uma boa é: o produto que está na altura dos seus olhos é sempre o mais caro! faça um esforcinho, se abaixe um tanto, até o chão, até o chão, tipo dançarino de funk, que você vai achar os precinhos camaradas). Mas a absoluta falta de tempo me fez comer mais porcarias que o habitual, recorrer à casa dos meus pais e também pedir comida por telefone.

Percorrendo os corredores ali pelas 19h, vê-se de um tudo. Sério, se alguém da antropologia ainda não pensou nisso, eu me habilito! Carrinhos de supermercado rendem boas pesquisas antropológicas! Sobre o comportamento, o gosto, as manias e as loucuras das pessoas.

Na fila dos frios, achei um tiozinho. Cabeça branca, mas muito bem disposto. No carrinho, baguetes, espinafre, um corte de carne, um vinho chileno, queijo e bombons. Certo que ela ia fazer um agrado para a sua querida!
Adoro cuidar as pessoas no corredor dos chocolates, balas e afins. Todos olham como crianças mas, na hora de passar a mão em alguma coisa e colocar no cesto, a culpa pesa e elas jogam as guloseimas como se atirassem uma droga, algo a ser escondido.
Na fila do caixa, mais um bico em um cestinho. O meu: que ódio essa coisa de solteiro. Tudo sobra, tudo estraga. Alô, alô, indústria de comes e bebes! Há um público e tanto para ser atendido (e bem atendido!).
Eis que tinha pão, frios, uma caixa de leite, uma pêra (uma mesmo! pq estraga tri rápido), mamão e minhas bolachas marias. O chocolate ficou pra próxima.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Voltando às antigas

Eu sempre fui usuária do Trensurb. E tenho histórias incríveis, engraçadíssimas e, inclusive, já fiz uma matéria sobre alguns personagens conhecidos do povo que tem o "Surb" como meio de transporte até a Capital.
Eu gosto do trem. Acho rápido, limpo, mais amplo que os ônibus e até desenvolvi, em anos de uso, táticas sobre como conseguir um lugar pra sentar, onde as portas abrem, e (pasmem!) já tive até mesmo um casinho no trem. Durou da Estação Mercado até a Esteio. Mas foi daquelas coisas rápidas e surpreendentes que a gente encara e depois fica dando risada de si, pela coragem.
Mas voltemos à história de hoje (não se animem com minhas aventuras amorosas! risos). Como estava "na região", precisei voltar aos velhos tempos e pegar o trem. É bom porque na hora do rush tem a cada 4 minutos, tempo de correr pela passarela e se colocar num bom lugar, em condições de disputar um cantinho.
Eis que, sem qualquer informação, deu uma pane e nenhum trem passou. A plataforma entupida de gente ligando para seus chefes (inclusive eu) e reclamando da falta daqueles vagões enfileirados. Desci, peguei minha passagem de volta e encarei um busão. O que me rendeu um atraso de 40 minutos no trabalho e um gasto de R$ 11,70 (por causa do táxi e do ônibus).
Aí, eu lembrei das greves que já enfrentei (sério, os ônibus não têm capacidade para levar a massa de gente que usa o trem), de uma briga de duas usuárias por causa de uma janela aberta (deu soco e tudo!) e das minhas tantas viagens até a faculdade, até o trabalho, o cinema, os encontros na Estação Esteio para ir à Expointer, enfim.
Mesmo com o transtorno de manhã cedo, não fiquei de cara. Foi legal voltar às antigas.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Peteleco

Estava titubeante se deveria ir para casa hoje. Essa chuvinha insistente, chata, deu preguiça até de levantar da cama, que dirá de sair de qualquer outro lugar sequinho, protegido.
Trabalhar pela manhã no dia seguinte me obrigaria a acordar mais cedo por causa da viagem até a firma. E mais todas aquelas desculpas que a gente inventa quando quer se convencer de alguma coisa.
A casa que eu me refiro é a dos meus pais. Eu teimo ainda de chamar de minha casa. Ela fica em outra cidade, próxima, mas parece estar em outro estado quando estou cansada ou em apuros.
A falta de algo interessante na geladeira do meu cafofo também pesou na minha decisão. E a carona de um amigo, providencial, idem.
Enfim, cheguei na casinha.
Ver em cima da minha cama (sim, ela está lá, do mesmo jeito que eu deixei há meses atrás) um presentinho, uns chocolates e minha caneca sobre a mesa da cozinha, pronta para um café quentinho, acompanhado de um belo peteleco (bolo de chocolate que eu comia muito na infância), foi de emocionar. Sério, me senti com uns oito anos.
No livro Mania de Explicação, da Adriana Falcão (eu vou falar nele várias vezes porque adoro e é ótimo!) a menina explica várias coisas, menos a felicidade.
Pra mim, hoje, a felicidade era aquele bolinho e um abraço de mãe.

Não altera em nada

Humildade é que nem canja de galinha: faz bem à saúde. E como tem gente doentinha por aí. É sério e lamentável. Sei lá, a lucidez, um prêmio que o tempo nos dá, faz com que os arrogantes sejam percebidos. Falo especialmente daqueles que escrevem, como eu.
Uma grande matéria pode consagrar. Mas amanhã estará lá, secando a umidade da cozinha ou enrolando banana. Tudo é uma questão de ponto de vista, da forma como a gente encara as coisas. Tudo passa, tudo passará, como diria Nelson Ned.
Um grande lead pode levar horas para ser concebido, mas não precisa muito esforço quando a história que se tem a contar é, por si, formidável.
Pois bem, toda essa enrolação é pra dizer que tem gente que se acha. Acha que escreve, acha que manja do bom jornalismo, acha que pode até ensinar. Isso mesmo. Toda a polidez dessas palavras precedem uma máxima bem conhecida: os medíocres estão soltos. A humildade é artigo raro atualmente.
Enquanto isso, faço minhas as palavras da querida Clarice (assim, íntima), que eu adoro. Pensamos igualzinho! (risos)

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."

Por enquanto

É engraçado. Time de futebol tem fases (em que ganha, ou em que é rebaixado), crianças também têm as suas (engatinhar, balbuciar...), governos tem das mais diversas fases (de glórias, de escândalos e tudo o mais que pode acontecer em quatro anos). E há mulheres de fases. Já cantaram isso, inclusive.
Mas o que quero dizer é desta fase que atravesso. (desculpa, Lú, mas por enquanto ainda não vai rolar um post mais prosaico, com impressões sobre a vida, o cotidiano).
Sempre digo que um dia vou virar uma borboleta. Enquanto isso não acontece, tamos aí, tentando aprender alguma coisa. E não fazer grandes bobagens. Uma fase letárgica, eu diria.
Nesse instante, o sono me impede de raciocinar como gostaria, mas logo retomo minha antiga forma. Que diz respeito à minha alegria, à disposição para tudo, ao meu jeito de levar a vida vendo o bom das coisas.
Por enquanto, ainda não sei explicar o que acontece. Espera-se que com uma boa conversa, uma vez por semana, e algum tarja preta, as melancias se ajeitem.
Por enquanto, só por enquanto.

domingo, 27 de julho de 2008

At home

Chuva, preguiça, família, filme, edredon, música. A lista é grande quando trata-se da definição de uma folga ideal. Sou do tipo que detesta domingos, que se deprime quando a noite chega e a expectativa pela semana se aproxima. Mas um dia como hoje merece o marasmo, o nada-para-fazer sem culpa.
Mas também é o dia perfeito para a nostalgia, o saudosismo, aquela saudade de coisas que não voltam, da gente mesmo em tempos distantes. Tem um slogan de cursinho ou coisa assim, que diz: "Você é o resultado de suas escolhas". Num dia como hoje, todas as escolhas parecem ter sido erradas, mesmo que tenham sido as únicas, as menos piores, as viáveis. It's too late.

Trilha: The Magic Numbers

Esperanças...

Enquanto o assunto do momento é o filme do Batman, e a interpretação do Coringa, preferi me deleitar nos últimos finais de semana com dois filmes pesados, impactantes, pungentes.
O Banheiro do Papa e O escafandro e a borboleta me atrairam ao cinema simplesmente pela esperança que ambos os filmes me sugeriram.
Li alguma coisa sobre os dois, mas nunca me baseio muito por sinopses (na maioria das vezes quem escreve aquele resuminho nem assistiu ao filme para poder dizer meia dúzia de palavras que convençam o cidadão a comprar o ingresso).
O primeiro, me fez sentir fraca, derrotista. Não sei se seguiria sonhando com um cenário daqueles, com a completa falta de tudo. Menos de esperança.
O segundo, depois de um AVC muito punk, em que tudo parou menos o cérebro (a lucidez) e o olho equerdo, o cara encontra uma forma de comunicar-se com o mundo.
Se é que posso, recomendo os dois filmes. Não pelas estrelinhas que os críticos conferem, mas porque são histórias que nos fazem sentir pequenos. E me sentindo pequena, vejo que o caminho ainda é longo. Que bom.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Anúncio de jornal

A gente está sempre acostumado a fazer o filé de um jornal: reportagens, grande fotografias, na pretensão de preparar o cardápio de assuntos que os leitores terão à sua disposição ao longo de todo o dia.
Os classificados (a menos que se esteja em busca de emprego/carro/apartamento ou algo assim), vão direto para a pilha que serve para enrolar banana ou secar os tapetes do carro. Os classificados são o chuchu do jornalismo.
Mas tem um anúncio de jornal que eu gostaria de ter escrito (da série "As coisas que eu queria ter escrito" ou "Que inveja porque esta criatura colocou em palavras tão direitinho o que todo mundo pensa, mas que quando diz fica brega"). É, um anúncio. Que sugere uma troca, que alguém quer desfazer-se de algo para ter outra coisas. Assim, simples. Eu adoro esta louca. Tudo o que vejo dela me dá vontade de guardar, como se me abastecesse daqueles devaneios.
Divido com vocês o meu "classificados" favorito:


"PRECISA-SE"
Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la.
Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere.
Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama.
Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos.
Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar.
P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilarecerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.
Clarice Lispector

O que eu queria dizer

Tem textos que a gente lê e sente aquela coisa: "Putz, eu queria ter escrito isso." O pior é que acontece freqüentemente, especialmente se o leitor opta por Gabriel García Márquez e tantos outros. Sempre que leio esse poema de Fernando Pessoa (inclusive já enviei para pessoas tão inquietas e angustiadas com a vida quanto eu), me parece que as coisas ficam menos pesadas, menos impossíveis. Divido com vocês...


Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

A estréia

Como toda boa estréia, essa também vem cheia de expectativa: será que este será um blog sem leitores? será que isso com o tempo vira um diário virtual? será que vou ter mesmo o que dizer para tantas atualizações? Que se dane.
O povo dos blogs - os mesmos que um tempo atrás eu criticava dizendo que é coisa de quem se acha muito importante para acreditar no interesse dos outros por suas palavras, e, sobretudo, que tem tempo sobrando - acabou me convencendo. Sucumbi a este meio de comunicação. Mas não tenho a pretensão de fazer sentido, de sugerir coisas, de produzir algo excepcional.
Por isso Bonecas Russas. Uma dentro da outra, sempre uma supresa, sempre um mistério, sempre uma expectativa.
Sejam bem-vindos!