sábado, 6 de dezembro de 2008

Por que explicar?

Eu devo mesmo ser feita de um material diferente daquele que se usou para fazer as outras pessoas. Não que o que foi usado para me fabricar seja melhor do que o utilizado na produção da maioria das outras pessoas mas, definitivamente, devo ser mesmo esquisita. Mais uma vez: calma, eu explico.
Enquanto a grande maioria dos jornalistas corre desesperadamente em busca de definições precisas sobre as coisas, eu vibro quando bato de frente com algo sobre o qual não consigo enunciar os atributos, algo para o qual não encontro adjetivos, uma coisa que não sei explicar. Isso me desafia todos os dias, há uma luzinha que liga sempre que encontro um personagem indecifrável, num contexto discrepante.
Quem consegue precisar o que acontece quando um arrepio percorre o corpo todo sempre que a gente escuta uma música que gosta muito? É possível definir com, pelo menos três adjetivos, o que é o frio na barriga, a taquicardia, a boca seca e o choro que vem do riso? Pode ser que alguém conte uma história na tentativa de estabelecer, limitar, demarcar, definir o que são todas essas sensações. Mas dificilmente ela será tão fiel, tão precisa, tão legítima quanto a certeza que tem aquele que vive qualquer um desses momentos inexplicáveis. O que é, enfim, uma epifania para você?
Pois a graça, para mim, está justamente nisso, em não saber dizer se o gosto é de amora ou de ameixa. Se o esmalte é vermelho, rosa forte ou cor-de-goiaba. A graça é não buscar a razão para não quebrar o encanto, não deixar diminuir, perder o brilho.
O jeito mais claro de explicar o que estou querendo dizer é o gostar gratuito. Não existem aquelas pessoas com quem a gente nunca trocou uma palavra mas que simpatiza, vai com a cara gratuitamente? O cidadão não faz absolutamente nada para conquistar, mas a gente gosta, sorri e inconscientemente agradece por dividir um instante. Mas o bem-querer gratuito só vale se a gente não tentar entender o porquê de gostar. Não faz sentido listar uma série de razões para a empatia, para essa coisa boa. E acho que o verdadeiro amor começa de um gostar inexplicável assim. Sem essa de elencar predicados do eleito que expliquem o interesse, a motivação e até mesmo a cafonice que vem embutida com os romances.
Já expliquei demais. Esses devaneios a gente não explica... a graça está em não entender, não ter certeza mesmo...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Pensando pensamentos

Naquele livro do qual eu sempre falo, o Mania de Explicação, tem uma definição que explica a redundância do meu título aí de cima. "Filósofo é quem, em vez de olhar televisão, fica pensando pensamentos".
Não que eu me considere uma filósofa, mas nos últimos tempos me pego pensando pensamentos demais. O demais não é em tom de reclamação (de quem só pensa e não realiza nada), mas sim de constatação. "Minha boca está fechada, mas minha cabeça não pára de falar", como bem disse uma criança a uma amiga uma vez.
O que é certo é que, além de estar se avizinhando o tempo dos balanços de final de ano, de ver o que deu pra fazer daquela lista imensa que a gente faz sempre que zera o cronômetro no dia 31 de dezembro, eu ando avaliando situações, coisas e pessoas. Mas mais do que tudo isso, a atuação do meu personagem diante de toda essa bagunça que é a vida da gente. E, por incrível que pareça, conclui que não tenho sido tão canastrona assim.
Não sei explicar o porquê de um súbito otimismo, mas acho que queixas e caras feias não combinam mais com meu corte de cabelo. Também são pesados demais para que eu os carregue na bolsa. Definitivamente, lamentos e aquela coisa morna, estão fora de moda.
Mas é importante não confundir serenidade com sangue de barata. Continuo detestando festas de natal, aquele cenário todo, aquela alegria falsa, aquela comida seca e fria. O fato de estar mais zen não quer dizer que vou varrer pra baixo da árvore natalina todo o baixo astral que rolou em 2008, as poucas e boas que tive que encarar, as portas fechadas que não consegui transpor, enfim. A gente não esquece até porque tudo faz parte, como se diz. A diferença é não sofrer por isso e nem cultuar a miséria pessoal.
Com toda essa filosofia de butiquim, acho que estou pronta para receber o papai noel e ver mais uma queima de fogos da frente da minha casa na praia com um nó na barriga por causa de uma louca e medrosa expectativa pelo que está por começar.
Eu disse que ando pensando pensamentos demais...

sábado, 1 de novembro de 2008

Écrire

A oferta de textos (na Internet e fora dela) é tão grande, escreve-se sobre tudo e todos, a todo o momento, que me sinto na obrigação de escrever algo neste espaço apenas quando, realmente, tenho algo a dizer.
Como não tenho um leitor específico a quem me dirijo - sempre acho que este é um blog sem leitores - me dou ao luxo de desaparecer de vez em quando (como adoraria desaparecer efetivamente). Isso, sair à francesa quando não me sinto a vontade para tratar dramas pessoais, sutilezas de uma vida corriqueira, quando o tanto que há para ler por aí basta.
Deixei de registrar qualquer coisa por tanto tempo que quase esqueci a senha deste blog. Acontece.
A volta, queridos, não se deve, no entanto, a nada de especial. Mas como acho que escrevo melhor do que falo, e já que não posso falar o que quero, me sobra escrever. Mas não para vender as minhas palavras, como faço todos os dias. Escrever para, simplesmente, satisfazer a necessidade de fazer sentido. Escrever para encontrar o verbete perfeito, aquele que exprime o que a gente sente, o que os olhos capturam quando encontram algo raro pela frente. Escrever, somente.
Se não fosse jornalista, talvez fosse escrevinhadora de cartas. Ou, talvez, leitora delas. Palavra por palavra, as frases, como uma fotografia, que conserva para sempre um instante, uns poucos escritos, que eternizam as idéias, os raciocínios, os sonhos.
É bom por representar por meio das letras o que se passa numa cabecinha fértil como a minha, que nunca pára...
Bom, mas isso é história para outros escritos.

domingo, 28 de setembro de 2008

Eles dizem "sim"

O casamento voltou à moda, definitivamente.
Hoje mesmo me dei conta de que, neste final de semana, boa parte das conversas que tive, ou dos eventos que fui, estavam relacionados, de uma forma ou de outra, ao enlace de duas histórias.
Tudo começou com um casamento coletivo em Canoas. Naquele sábado ensolarado (um casamento primaveril, como diria a Bebel), cem casais de baixa renda disseram o tão esperado "sim".
Com direito a tapete vermelho, chuva de prata e música romântica (Roberto Carlos Cover!), pessoas que já haviam confirmado seu desejo de viverem juntas no dia-a-dia, sem ritual, sem roupa bonita e sem espectadores, fizeram isso perante a lei e alguma religião.
Sem entrar no mérito de se o casamento garante ou não a longevidade do amor e todas aquelas discussões, ainda assim acho bacana quem se compromete.
Depois, no final do dia, conversando com duas amigas queridas, numa sessão de fotos e álbuns antigos, vi registros de um casamento que aconteceu há mais de 25 anos. Se o matromônio durou ou não "até que a morte os separe" é apenas um detalhe. O encantador foi imaginar que sonhos aquele casal tinha quando prometeu amar e respeitar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença e tudo mais... O vestido da noiva poderia ser usado hoje com a maior garantia de elegância. Os rostos jovens e sorridentes capturados naquelas imagens dizem mais do sentimento que qualquer declaração ou papel.
E isso sobrevive, independente dos rumos que a vida ganha.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

É pra somar!

Pessoas de extremos, como eu, deveriam pensar na influência do "ou" e do "e" na vida cotidiana. Exercitando um "ou" outro, sabendo usar, dizem que o humor, o estado de espírito e até os soluços melhoram.
Calma, eu explico. Até porque eu preciso entender primeiro para, só depois, colocar em prática. Infelizmente, meu aprendizado se dá assim.
"Ou" eu amo, "ou" eu não amo. Isso. Num trabalho, ou é 100% de energia e tesão empregados "ou" é 0% de motivação, por favor, não me chamem. "Ou" tenho amigos para todas as horas, "ou" não tenho amigos (nem sempre a gente tem saco para conviver com amigos grudentos, com papo cabeça e "que fazem a diferença" o tempo inteiro. Até que é bom ter amigos mais lights, sem cobranças, sem julgamentos, de acordo com a maré).
Durante muito tempo achei que isso era uma marca, algo que designava pessoas fortes, com opinião, decididas. De extremos, melhor dizendo. Não havia variação do tipo: 54,38% apaixonada, 23,16% a fim de trabalhar e 33,33% cansada da vida que eu levo. Era 100% "ou" 0%. Era on "ou" off. Somente.
Mas o que a gente nem sempre pensa é que o "ou" designa exclusão. Tá lá, no dicionário, é a única alternativa possível. Não existe meio-termo. E, muito menos o tão sonhado (e, às vezes, inalcançável) equilíbrio.
Nessas, a gente perde boas oportunidades, dispensa pessoas, reina absoluto na redoma que contrói. Tanta intensidade (ou ausência dela) para nada.
Pois então falemos do "e". É fácil perceber a diferença entre amboa. O "e" soma, é aditivo. É menos firme, mas é mais agregativo. Ele aumenta as opções, não aposta no tudo "ou" no nada, mas, sim, em um pouquinho de tudo, sem se levar tão a sério.
Pois no lugar de ir "ou" não ir a um parque caminhar, a gente pode ir "e" convidar um amigo para passear. Com o "e", as possibilidades são ampliadas, assim como os riscos, é claro. Só que sem risco, perde a graça.
Talvez esses escritos sejam óbvios para muita gente. Não importa. O vale é que leiam "e" pensem, assim como eu fiz agora. Pois não se trata de um texto para gostar "ou" não gostar.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Quando estou amando

Ser espectador da vida dos outros deve ser algo muito desolador.
Foi isso que senti quando assisti Quando estou amando (Quand j'étais chanteur, de 2006) no último domingo.
O filme conta a história de um cantor de bailes cinquentão (que faz mechas nos cabelos cuidadosamente penteados e displicentemente crescidos) que se apaixona por uma corretora de seguros (beeeeeeem mais nova, recém-divorciada.
Até aí, tudo normal.
Mas tem o lance da diferença de idade, da confusão da vida dela (com um filho pequeno que a rejeita), sua beleza e a carência imensa de ambos. E mesmo com tudo para dar em dor-de-cotovelo, o cantor Alain Moreau encontra em sua amada (platônica) um motivo forte e irrefutável para cantar, cantar muito, expressar todo o seu romantismo e sua cafonice nos palcos da vida.
Até que ele, de cima do palco, assiste sua musa envolvida (superficialmente, apenas por uma noite) com outro monsieur.
Realmente é dolorido demais assistir a felicidade de quem a gente ama. Os mais altruístas até podem dizer que não, que desejam todo o bem para seus amados (mesmo que isso aconteça ao lado de terceiros), mas não é fácil cantar uma balada para embalar momentos importantes nas histórias dos outros.
Antes que pensem que o filme é baixo astral, garanto que é bem o contrário. É comovente à sua maneira, tem aquele clima de baile que eu acho muito legal (apesar de já não existirem mais essas noitadas, pelo menos não aqui, talvez em Paris ainda existam...), sem ser piegas.
E tem aquela coisa: "Quando se está amando", todo mundo fica um pouquinho cafona, um pouquinho piegas e um tanto sem noção.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Paciência

Um dos meus cantores favoritos, o Lenine, tá com uma música dele embalando um comercial de tevê (não me perguntem do que se trata a propaganda porque eu não sei dizer). Cada vez que aparece o tal anúncio e trechos de Paciência começam a tocar, paro tudo.
Essa música já tocou em novela, já foi executada naquele projeto acústico da MTV e acho até que o próprio Lenine já perdeu a paciência com ela (ai, desculpem o trocadilho... saiu sem querer...).
Mas os versos são importantes, não são datados. Eles alertam sobre algo que, com essa rotina idiota, que se impõe todos os dias, quando "o mundo vai girando cada vez mais veloz", a gente não consegue ver: a urgência da vida. Falta alma, falta a parte imortal, o sentimento, o entusiasmo, a coragem, a disposição, a expressividade... Falta vida.
E lá vai, então, o Lenine: com seu sotaque melodioso, tem calma, "faz hora, vai na valsa". E finge ter paciência.
Aí é que deve estar o segredo.

Será que é tempo que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo pra perder?
E quem quer saber?
A vida é tão rara tão rara...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Paris, eu te amo

Com um certo atraso, assisti hoje Paris, je t'aime. A cidade do amor, ou a cidade luz, sobre a qual tenho lido muito e sonhado muito, é apresentada a partir do olhar de 20 cineastas.
Para quem espera um filme corrido, com histórias amarradas, Paris je t'aime pode ser chato ou desconexo. Mas de qualquer forma, nos 20 curtas de apenas cinco minutos há o comportamento parisiense, há todo aquele cenário, com direito a torre, cafés, cemitérios e todo o encantamento e charme que só a capital da França tem.
Eu destacaria a pequena história vivida por Natalie Portman (Francine, do segmento "Faubourg Saint-Denis"), uma jovem atriz que tem um romance com um cego. Os altos e baixos da relação aparecem em forma de lista, como se tudo não passasse de uma cena ensaiada por ela.

Não lembro exatamente das falas, mas uma delas trata-se de algo do tipo: "A gente se abraça, se beija, se aproxima. Nós nadamos, eu estudo pras provas, ela grita. Vamos ao cinema, ela ensaia. A gente se abraça, se beija, ela grita (com razão e sem razão), a gente discute. Eu estudo pras provas, não vamos mais ao cinema, não nos beijamos..."

Fiquei pensando se todas as histórias (de amor ou não) podem ser contadas assim, feito listas de tarefas, com exatos começo, meio e fim. Tudo parece estanque, sem emoção, mas também sem sofrimento, sem dúvida e sem atitudes sem sentido. Tudo parte de um script.
O problema é quando a gente teima em querer mudar, reescrever as cenas com as próprias palavras.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

La Faute à Fidel!

Hoje, a pequena Ana, uma francesinha que tem sua vida posta de cabeça para baixo depois que os pais simpáticos ao socialismo decidem se engajar na luta contra os facistas do mundo inteiro, me fez lembrar de mim.
Eu não perdi a casa onde morava na infância para ficar apertada em um minúsculo apartamento, nem fui proibida de assistir às aulas de ensino religioso no colégio de freiras onde estudei e nem tive babás estranhas, a maioria refugiadas.
O que me fez me ver na telona foi a necessidade que aquela pirralhinha de nove anos tinha de entender tudo o que se passava com a sua família, na sua frente, com o entra-e-sai de "barbudos" "vermelhos e comunistas". Eu sempre quis saber mais do que era permitido para a minha idade (lembro de um livro proibido até! - antes mesmo de "ficar grande" descobri que se tratava daqueles segredos guardados pelos adultos: como as crianças nascem, a verdade sobre coelho da Páscoa, Papai Noel e tudo mais).
Assim como a Ana - que pegou o pai de supresa querendo saber o que houve em maio de 1968, e a mãe, indagando sobre o que é o aborto - eu não me contentava com aquela conversinha de adulto despistando criança curiosa.
Com esse hábito desde a infância, me eduquei a desconfiar, a ser curiosa (na medida certa, tenho certeza) e, mais que tudo, estudar para saber questionar. A francesinha Ana, nos anos 70, além de abelhuda, tinha uma percepção e tanto, não sossegava com ordens com as quais não concordava simplesmente por serem ordens sem argumentos.
No fim das contas, mais que mostrar a esquerda, o filme combina sensibilidade e humor. De todos os conceitos que Ana tentou aprender, talvez a solidariedade tenha sido o valor mais importante e mais bonito que ela descobriu.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

O que realmente vale a pena

A intenção não é plagiar e nem repetir a idéia daquela propaganda de cartão de crédito que diz que isso ou aquilo não têm preço. Mas não dá pra deixar de referir as coisas incríveis que a gente só pode fazer quando está de férias. E não há dinheiro que pague, realmente.
São coisinhas prosaicas, não são de difícil realização, não é preciso ter um grande dinheiro para tal e nem necessita de que o cidadão vá para lugares distantes e abarrotados de gente. Ser dono do próprio tempo é, sem dúvida, um luxo.
Hoje eu naturalmente me dei três presentinhos desses.
O primeiro deles foi ficar de prosa com uma amiga querida, atirada numa poltrona, e tomando um chazinho durante três horas ininterruptas. O segundo foi, no meio da tarde, sentar em um café para "olhar o movimento". Ah, o passatempo ficou bem melhor sem relógio e com uma xícara de café, é claro. E, por fim, voltar para casa dos meus pais trazendo um agradinho para todos. Sério, isso pode ser banal para alguém, mas adoro agradar quem eu curto.
Aí é que vem a questão: Por que a gente tem que esperar o ano inteiro para ter tempo de se agradar? Tenho certeza de que, se as pessoas tivessem um tempinho para qualquer dessas atitudes que realmente valem a pena, seriam 1000% mais produtivas. Mas não. Preferem todo mundo acabado, estressado, no limite.
Me alegra saber que tenho alguns vários dias de nada-pra-fazer-sem-culpa.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Indiadas

Ver o Parque de Exposições Assis Brasil lotado (no domingo foram mais de 93 mil pessoas), em mais uma edição da Expointer, me faz lembrar de algumas histórias de piá. Hoje, depois de adulta, só entro na feira para trabalhar. Mas sempre me recordo das mesmas cenas.
Na adolescência, com uma turma, qualquer lugar fica interessante e engraçado. Visitar uma feira agropecuária (a maior da América Latina) não é exatamente o programa mais indicado para os aborrescentes, mas a gente adorava porque a cidade deixava de ser pacata.
Eu lembro de ter batido um recorde: fui nos dois sábados e domingos, na terça-feira com o colégio e na quinta-feira com a minha avó. Fora quando resolvia acompanhar o meu pai no domingo de manhã porque ele queria fugir da muvuca.
A gente nem sequer olhava os animais. Eu tinha medo de passar pelo meio daqueles touros deitados, sem nenhuma cerca, também não curtia aquele "aroma" do campo e ninguém "interessante" estaria naqueles pavilhões. Resumindo, a pirralhada ficava em algum bar (o do Lions era o point) ou ia direto para o parque de diversões.
Era lá que os casinhos marcavam de se encontrar (uma vez achei um pretendente na frente do Crazy Dance e tocava a música Tão Seu, do Skank! hahaha), ou a gente ficava admirando a coragem de quem topava andar nos brinquedos mais altos. Fui obrigada no kamikaze e quase morri gritando.
Como sempre chovia, ficava aquele barro por todos os lados. Mesmo sujos, mortos de cansaço, depois de percorrer pavilhões de artesanato, zanzar pelo parque todo, comer morango com chocolate, cocadas e beber capeta, não queríamos ir embora. Só quando as luzes começavam a se apagar, os animais começavam a ser guardados e as maçãs-do-amor vendidas em promoção, a gente resolvia ir embora.
Nostalgia boa. Quando a única preocupação que se tem na vida é passar por média no 4º bimestre, é mais fácil gostar de tudo e encarar essas e outras indiadas.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Mil e uma utilidades

Sabe quando você emprega uma boa dose de energia em algo que não se transforma em nada de importante? Não é raro aparecer aquele gostinho de frustração, de não estar realizando absolutamente nada de útil.
Pois para chutar (literalmente) o marasmo e tentar ser uma pessoa melhor (eu já disse isso), decidi, há poucas semanas, começar a estudar kung fu. Antes que mentes engraçadinhas pensem que foi motivada pelo filme do ursinho panda, eu afirmo que é mais uma tentativa de encontrar algo que me agrade e acalme ao mesmo tempo. Não é exatamente sossego que eu quero, mas um lugar onde as pessoas não passem o tempo inteiro adorando suas bundas, peitos, pernas e braços. Se der pra suar um pouco e aprender algo de válido para o meu dia-a-dia, supimpa.
A coisa é toda cercada pelo ritual. Desde a roupa (ainda não tenho o uniforme oficial do lutador de kung fu, mas as cores da roupa são determinadas) até a forma de cumprimentar as pessoas, se colocar diante dos mestres, tudo faz sentido. Na chegada já comecei a gostar.
Depois tem a coisa do corpo, de treiná-lo para suportar a dor, do condicionamento físico propriamente dito. Quem olha de fora pode não entender o que aqueles chutes e socos podem ter de tão interessante, mas foi dessa arte marcial que veio da China que eu gostei, finalmente.
Ainda não tenho faixa alguma (a branca é a primeira), mas isso não importa. Quero perseguir a precisão do movimento, da concentração, da filosofia da coisa.
Um esporte com mil e uma utilidades: desenvolve a coordenação motora, a força, a resistência, a flexibilidade, o ritmo. Também proporciona maior segurança, tranquilidade e controle das ações, desenvolvimento do raciocínio, os reflexos, atenção e concentração mental.
Era tudo o que eu queria.

sábado, 30 de agosto de 2008

Grandes esperanças

Tem filmes que a gente assiste e parece que ajudou a escrever o roteiro. Quando vi Grandes Esperanças foi assim.

Na época, minha missão era escrever uma resenha sobre a história de Finn e Estella. Era uma tarefa importante, eu deveria ver o filme com olhos atentos, prontos para perceber mensagens subliminares, interpretar cenas, captar pequenas sutilezas.
Mas como era um filme de 1998 (baseado no livro de Charles Dickens), acabei não encontrando na minha locadora de sempre. Procurei em livrarias, queria comprá-lo, afinal, tinha assumido o compromisso de que assistiria ao filme e escreveria sobre ele. Estava esgotado em Porto Alegre e levaria dez dias para chegar de São Paulo. Eu não podia esperar. Minha curiosidade não permitiria. Por sorte, acabei achando em DVD numa locadora perto do trabalho. Foi a primeira e única vez que fui ao tal estabelecimento.

Comecei a ver o filme com atenção. Com um bloco de anotação nas mãos, ia listando características de Estella (Gwyneth Paltrow). Ela era a grande paixão de Finn (Ethan Hawke), que a tinha como inalcançável. Nas mãos de Estella, ele era como um brinquedo, manipulado, envolvido por seus caprichos. Na verdade, Finn sabia que seria magoado. Durante boa parte da história fiquei em dúvida se algum dia Estella realmente sentiu algo por ele.

O filme terminou e, enquanto os créditos apareciam, decidi não escrever a tal resenha. Me limitei a fazer apenas um breve comentário. Para mim, o filme evocou a fragilidade e a efermeridade do amor. Não é bom perceber que as grandes esperanças que se tem de viver uma grande história se dissipam quando alguém não está disposto a arriscar.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Duas horas de vida suspensa

Desde a época em que a minha mãe pegava a criançada, colocava debaixo do braço e levava para as mantinês, eu adoro ir ao cinema.
Lembro de ter visto A Dama e o Vagabundo, todos os filmes da Xuxa e até o He-Man (com direito a ter o meu pai junto, dormindo de roncar alto!). E meu colégio também proporcionava idas ao cinema de vez em quando. Era uma festa à base de muita bala azedinha (que a gente esvaziava rapidinho e ficava com o céu da boca ferido!).
No domingo fui, mais uma vez, saciar minha vontade de estar em frente à telona. Minha alegria é tanta que, muitas vezes, o filme fica em segundo plano. O enredo nem me importa. Tudo por causa do ritual, das luzes que se apagam, do silêncio (apesar de já ter presenciado vários barracos no cinema, gente sendo levada pra fora por mal comportamento e toda aquela comilança que faz um barulho danado), e o envolvimento total com aquela história.
Li esses dias um livro em que o personagem gostava de ir ao cinema porque sua vida ficava suspensa por duas horas. Durante este período, se esquecia de si, ficava fora de si, de seus problemas e se colocava um pouco naquele mundo em que a trilha sonora é incrível, tudo é intenso e mais bonito.
Gosto tanto da sétima arte que vou ao cinema até mesmo sozinha, não me importo, me sinto bem, ainda mais envolvida com a história, uma sensação quase egoísta de quem não quer dividir aquele momento com ninguém.
Mas também tenho que reconhecer que já tive muito boas companhias que dividiam este gosto comigo. No domingo fui com a minha irmã. Faz horas que perseguimos filmes fora daquela coisa comercial. Já vimos irlandeses, franceses (os que eu mais gosto!), chineses, e muitas co-produções. Um luxo!
Vimos Amar... não tem preço. Audrey Tatou está uma graça, o filme é leve, engraçado, com o melhor da França ao fundo.
Como disse uma senhorinha que estava no AeroGuion, "um filme para fazer a higiene mental". Cinema é bom pra isso.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Uma mente sem idéias, um corpo cansado

Quantas vezes você pára tudo para avaliar a sua vida? Nenhuma? Feliz de você. A ignorância às vezes é um presente.

Não é papo de quem está sempre procurando problemas, reclamando da vida. Mas um pouquinho de auto-crítica faz muito bem à saúde. Ser uma pessoa melhor. É isso que todo mundo devia perseguir.

Numa época do ano em que o corpo está cansado, a cabeça um pouco vazia de boas idéias e a paciência se esvaindo, vale uma pausa para reflexão. Mas com a barulheira dos últimos dias está difícil sossegar e definir o que fazer da vida. Por isso, resolvi começar pela casca: isso, arrumar a casa, limpar tudo, pôr ordem no puleiro. Coisa boa o cheiro de faxina feita, tudo brilhando, vidros transparentes de novo.

Mas a faxina mais demorada é a da rotina, dos maus hábitos, das coisas mal-resolvidas, de tudo o que a gente varre para baixo do tapete. Essa nem com uma pausa de um mês, meditando, é possível resolver... mas tentar já dá uma sensação de alívio, de "estou fazendo alguma coisa para mudar".
Por enquanto, são só tentativas.

domingo, 17 de agosto de 2008

Não vale a pena ver de novo

Eu disse aqui neste espaço esses tempos, que citaria seguidamente trechos do livro da Adriana Falcão, o Mania de Explicação. Adoro este livro. Já comprei uns três para dar de presente e também tenho o meu exemplar. As ilustrações são uma graça. Eu digo que é um livro para crianças grandes (sim, você tem que procurar nas prateleiras da seção infantil das livrarias).
E hoje, este texto é baseado em uma das tantas definições que a menininha criada pela Adriana inventa para tentar explicar o mundo.

Lembrança: é quando, mesmo sem a sua autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.

O problema é quando o mesmo capítulo vem sendo repetido sem parar na cabeça da gente. Quem já não ficou com uma coisa martelando, uma cena, revivendo uma situação de olhos fechados? Eu ando com várias na cabeça. Parece que elas me impedem de viver outras cenas da minha própria vida. Ui, sai pra lá. Mas essas reapresentações estão grudadas, não querem sair.

Nas lembranças boas, o que vale é prorrogar o bem-estar do que foi vivido, repetir como se tivesse um controle remoto passando e repassando as cenas, selecionadas. Nas ruins, é bem aquela coisa de louco: repetir milhares de vezes para achar o erro e tentar desculpá-lo, ou para se certificar de que as pessoas fizeram mesmo o que fizeram e sua reação não foi aquela que você esperava.

O fato é que coisas e pessoas que já não importam estão fazendo festa na minha cabeça. Essa gente vem, se instala e eu não consigo expulsá-los. Assim como as situações. Parece que estou vivendo um Vale a Pena Ver de Novo sem ter sido consultada.

Agora, por exemplo, estava lembrando o que eu fazia há um ano, num domingo desses de agosto. Sei direitinho: dormi até mais tarde porque tinha ido a um aniversário na noite anterior. Almocei com minha família toda em um restaurante da Zona Norte. Fazia um dia lindo, ensolarado. À tarde, recebi duas pessoas em casa e fomos ao cinema. O filme era Os Simpsons. Depois, café e conversas. No fim do dia, quando já chovia e era noite, jantamos em um restaurante árabe.
Eu pergunto: por que isso ainda está aqui assim, tão claro, com tantos detalhes? A cena não importa mais, as pessoas já não importam mais, eu já não me importo mais com nada disso. Não vale a pena ver de novo.

Assim como a minha casa, acho que minhas idéias precisam de uma faxina... Isso. Uma limpeza geral no computadorzinho aqui. Não tem mais espaço pra coisas novas, coisas boas.
Vou preparar baldes e panos.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O fim

O olho deixou de brilhar. Depois, foi a memória que pregou uma peça. A cabeça já não funcionava como antes. O sorriso apagou-se. A respiração ficou sofrida, ofegante. Até que ele parou de bater. E então, fomos apresentados ao fim.

Mas o que é, de verdade, o fim? A sensação dolorida de nunca mais? A impressão de que nada poderá ser salvo, mudado? Você já foi apresentado a ele?
O fim intercepta o caminho sem permissão. Ele vem quando o relógio passa de 23h59min, e o dia acaba sem que se tenha percebido. Quando o amor se esvai abruptamente, é ele quem se impõe. O fim chega de mansinho quando bate a angústia na véspera de Réveillon, e se declara líder de todas as derrotas.

Mas sua mais amarga aparição é, sem dúvida, quando a vida termina. E hoje o fim foi cruel. Esperou a noite, trouxe ventania, chuva forte. O fim colocou-se imperativo depois de suaves aparições durante quase cinco anos. Cada dia ele marcava sua presença deixando um sinal, debilitando, devastando, apagando tudo o que mais amamos em alguém.
O fim é desleal. Não dá alternativas, não barganha, não negocia.

E depois do fim? Por favor, alguém sabe me dizer o que fica, o que acontece?
Nem é preciso citar que ele dá lugar ao vazio. Desorientação, desamparo.
E fica a pergunta: Se tivéssemos driblado o fim? Dado uma rasteira e merecido uma segunda chance? O que seria diferente?
Hoje eu não sei responder a esses questionamentos. Só consigo mensurar a minha dor. Meus olhos ardentes de lágrimas, meu desencanto, meu desespero.
Eis o fim mais triste que já vi.

domingo, 10 de agosto de 2008

Quando alguém escreve o que eu queria ter escrito

Falava esses tempos com o meu querido Feltes. Lá pelas tantas, ele me mandou a letra de uma música que eu queria ter escrito. Ou melhor, era daquelas trilhas para certos momentos da vida. O meu momento de agora. Sim, também tenho trilhas sonoras específicas, para episódios e fases. Mas esta, para ele, também fazia sentido, remetia a alguma situação, algo que fica melhor recordar com notas musicais. Divido este belo texto com vocês.

Em caso de dor ponha gelo
Mude o corte de cabelo
Mude como modelo
Vá ao cinema dê um sorriso
Ainda que amarelo, esqueça seu cotovelo
Se amargo foi já ter sido
Troque já esse vestido
Troque o padrão do tecido
Saia do sério deixe os critérios
Siga todos os sentidos
Faça fazer sentido
A cada mil lágrimas sai um milagre
Caso de tristeza vire a mesa
Coma só a sobremesa coma somente a cereja
Jogue para cima faça cena
Cante as rimas de um poema
Sofra penas viva apenas
Sendo só fissura ou loucura
Quem sabe casando cura
Ninguém sabe o que procura
Faça uma novena reze um terço
Caia fora do contexto invente seu endereço
A cada mil lágrimas sai um milagre
Mas se apesar de banal
Chorar for inevitável
Sinta o gosto do sal do sal do sal
Sinta o gosto do sal
Gota a gota, uma a uma
Duas três dez cem mil lágrimas sinta o milagre
A cada mil lágrimas sai um milagre
Poesia de alice ruiz, musicada por Itamar assumpção

O dia deles

Eu faço parte do imenso grupo de pessoas que detesta datas comerciais. Só de pensar no Natal tenho calafrios. Sério. Aquela coisa de filas imensas, lojas estourando de gente, uma estupidez. As pessoas correm em busca de algo completamente sem sentido. Fora a obrigação de ficar feliz na Noite Feliz. Ui, chega, prefiro nem antecipar o sofrimento do final do ano.
Mas o dia de hoje é mais uma dessas datas. Para que este blog trascenda o texto confessional, vou me abster de falar sobre a relação que tenho com o meu pai. Não que ela não seja boa. Vamos ficar apenas com a coisa da comemoração e da luta por um presente bacana.

Dizem que o presente ideal é aquele bem supérfluo: algo que o cidadão não precisa e não compraria por achar um desperdício de dinheiro. Do contrário, se for algo de primeira necessidade, não se trata de um presente, e sim, de um serviço de utilidade, tipo tele-entrega na hora da fome. Há ainda o sinônimo de "lembrança", de "mimo". Fico com o sentido de lembrança. Algo a partir do qual o meu pai vai lembrar de mim.

Pois bem. Rodei o shopping angustiada na última sexta-feira. Tive o comportamento típico do indeciso: quando me dei conta, estava comprando coisas para mim e (pasmem!) me peguei circulando até entre os corredores da seção infantil de uma livraria.
Meia hora antes de começar a trabalhar, decidi me render ao primeiro presente que me ocorreu. Sim, um pijama.

Pode que muita gente pense ser este o presente mais chato da face da Terra e mais sem criatividade. Pode ser. Eu pensava isso das meias, mas hoje adoro ganhá-las de presente. O tempo muda nossas concepções sobre as coisas e as pessoas. Ainda bem.

No entanto, tenho certeza de que meu pai vai lembrar de mim sempre que usar o tal pijama. Isso porque quando estou em casa, esta é a roupa que mais gosto de usar. E quanto mais velho, melhor. O pijama tem uma coisa de proteção, de lar, de descontração. Por isso, no lugar de envergonhada, hoje de manhã, quando ele abriu a embalagem, fiquei satisfeita. Nada seria mais a minha cara do que um pijama. Talvez as canecas também fossem. Mas comprei canecas para ele no ano passado.

Quanto às comemorações, curto tudo como fazemos: o café da manhã tem o bolo que o meu pai mais gosta, os docinhos de nozes sem os quais ele não vive, e depois, o almoço é em casa, com direito àquele bate-papo (ou bate-boca, dependendo dos ânimos) pós-orgia-gastronômica.
Talvez este não seja exatamente o melhor dia dos pais (na verdade, aqui ninguém pergunta para o homenageado se assim está do seu gosto), mas é o que temos.
Sabemos que o silêncio dele e seu prazer em preparar a comida ao lado da filharada toda em volta, substitui qualquer discurso ensaiado.

sábado, 9 de agosto de 2008

Quebrando os pratos

Ontem fui a um restaurante grego. Já tinha provado da comida tradicional da Grécia quando estive no Canadá, mas quis repetir a dose ao lado de um casal de amigos muito querido aqui em Porto Alegre.

Pois bem. Olhando o cardápio, muita curiosidade, e muitas risadas também. Me decidi por uma espécie de lasanha com carne e berinjela. Se me perguntarem o nome da tal iguaria, eu não sei pronunciar e, menos ainda, escrever. Mas a parte engraçada veio depois: a sobremesa. No cardápio dizia algo do tipo: "Tradicional sobremesa grega, etc, etc..." Lá pelas tantas, citando os ingredientes do doce, eis que damos de cara com... Castanha do Pará. Mas como assim? Castanha do Pará na Grécia? Ah, não vamos exagerar, né? Mas boa comida, boa companhia e um final de noite de sexta agradabilíssimo.

E, como de costume, o melhor vem no fim: os pratos. A cultura grega tem essa coisa de quebrar os pratos, principalmente em casamentos, dizem que dá sorte. Pois quem comesse toda a comida ontem (que nem criança, limpando o prato!) ganharia um prato para quebrar no final. Neste restaurante só as meninas ganham pratos.
O lance é que, com um giz colorido, tínhamos que escrever todas as coisas das quais queríamos nos livrar em nossas vidas. Durante o jantar eu já estava mentalizando a minha lista! (risos)
Claro que, listados, entre outras coisas, estavam tristeza, medo, ansiedade e todos os males que nos impedem de sermos melhores.
A parte divertida foi quebrar os pratos. Minha amiga foi de leve. Quebrou em duas partes, depois os cacos foram diminuindo. Eu não. Quebrei de uma vez, com força. Até deu medo. (risos)
Tomara que o efeito seja imediato.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Vermelho e azul

Não, não vou falar sobre a rivalidade de Grêmio e Inter. Por favor, me desculpem os fanáticos por futebol, mas o mundo não é uma bola.
Pois essas duas cores podem servir, por um tempo, para definir humores e estado de espírito de quem duvida se está 100%. O vermelho, o baixo astral, a letargia. O azul, a euforia, a ligação em 220v. Isso, com muita sorte, quando o que o cidadão sente é decifrável. Mas aí são outros 500.
Trata-se de uma brincadeira de criança: dois lápis de cor para pintar quadradinhos ao longo dos dias. Cada nuance, um detalhe da personalidade. Mais forte, mais intenso, mais claro, menos importante. Um mosaico de nós mesmos.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Coisa rápida

Só pra não dizer que não falei de flores, registro o dia ensolarado (com frio, mas um lindo dia!), o início do meu curso de francês (adorei, adorei, adorei), só a professora e mais dois colegas (sim, estou cada vez mais seletiva, contra muvucas, gritarias e multidões), e estou doente.
Há milênios eu não adoecia. Uma dor de cabeça aqui, uma dorzinha na boca por causa do aparelho, coisa pouca.
Mas dessa vez a coisa é mais forte. Tenho certeza que essa coisa de imunidade baixa é real. Um espirro me derrubaria nos dias de hoje...
Prometo me inspirar mais depois que essa coisa ruim passar.
Beijos e abraços.

domingo, 3 de agosto de 2008

Contação de histórias...

Não achei o verbete no dicionário que tenho por perto, mas ele existe. Contação de história. Aprendi o que contação quer dizer numa das aulas do curso de Letras, que deixei de lado por uns tempos. Para as crianças, a contação de histórias é um momento mágico. Desperta a curiosidade e a imaginação voa longe. Contar coisas que valem a pena serem ouvidas.
Para os adultos interessados em ouvir (hoje as pessoas mais querem é falar e não ouvir), pode ser uma alegria ouvir uma história bem contada.
Pois hoje escutei (para trocar o verbo já tão repetido), mais uma vez, algumas histórias da juventude da minha mãe. Só faltou fechar os olhos para ver os flertes no ônibus a caminho do cursinho, os vestidos dos bailes (sim, a balada se chamava baile) e as fofocas de adolescente que ela tinha com suas amigas. Fora as implicâncias do irmão mais velho com os pretendentes e coisas do tipo. Que saudade de uma vida que não era a minha, mas parecia ótima: fora a coisa dos apliques no cabelo e do delineador nos cílios postiços, um arraso!
Tem vezes que acho que seria melhor ter sido jovem naquela época. É, as situações eram mais reais, mais esperadas, mais intensas.
Hoje, um cidadão pede o telefone e, depois de passar a noite com a criatura, no outro dia nem lembra acompanhado de quem estava. Hoje, é bonito querer ser livre, pegar todo mundo e rir da solidão. Isso deixando de fora coisas antiquadas como casamento, filhos e outras cafonices...
Ah, me poupe. Prefiro histórias reais a esse teatrinho ultrapassado.

sábado, 2 de agosto de 2008

A gente merece

Como eu sempre me atropelo mesmo, postei antes um negócio que aconteceu depois. Perdoem-me, meus raros leitores. Mas essa sou eu. Atrapalhada, bagunçada, mas boa de coração. (risos)

Sei lá se isso tá virando um diário virtual (minha experiência como leitora de blogs é recente, assim como a de escritora desse tipo de texto), mas tenho me sentido à vontade de fazer comentários, de explicar minhas confusões. Sério.
Numa dessas, até passo o endereço do blog para o meu psicanalista... vai adiantar bastante o trabalho dele... (risos)

Mas bem que esses escritos poderiam virar literatura decente... O blog poderia ser um espaço de crítica, de observações do cotidiano. Vai saber. Por enquanto, o que temos é o que a casa oferece.

Vamos ao que eu queria dizer: sabe aquela semana de trabalho pesada, cansativa, cheia de coisas pra fazer? Pois é. Tem quem termine uma dessas na mesa de um bar, com muita cerveja e muita música. Beleza.
Mas também vale a pena, e a gente merece, conversar bastante com uma amiga querida, degustando uma comidinha especial, num lugar bonito, bom de estar. A dica é a pizzaria Sálvia, na Capital. O destaque é a pizza de lombo com catupiry. E os caras mandam bem também na trilha: The Corrs.
A gente merece.

Do outro lado

Hoje fui ver o terceiro filme da minha listinha de mais esperados. Faltava Do outro lado. Depois de O banheiro do Papa e O escafandro e a borboleta, queria muito saber do que se tratava a história.
Uma dica: não se baseie nunca pelos resuminhos que acompanham os horários e as salas onde os filmes estão passando para escolher o que assistir. Sério. Não tem nada a ver mesmo. Alguém deveria iniciar uma campanha para que terminem com aquela meia dúzia de palavras que acabam com o tesão da criatura em ver o filme!
Passada a breve reclamação, vamos ao filme: vidas entrelaçadas, breves decisões que mudam o rumo de tudo, o que faz pensar, pensar e pensar. Gosto disso. Fora essa coisa Turquia/Alemanha, me faz bem ouvir outros idiomas, ver outras paisagens diferentes do que a gente sempre vê no cinema normalmente. O fim, aberto, deixa para cada um, de acordo com sua sensibilidade, concluir o que bem quiser.
Se é que posso, recomendo.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Um milhão de amigos

Esses dias que eu me dei conta. Estou mais só do que jamais estive.
Essa constatação veio quando fiz uma ronda pela agenda do meu celular perto do Dia do Amigo, para ver para quem mandar uma mensagem carinhosa. Quase ninguém valia a pena.
Uma coisa é certa. Há amigos temporários, instantâneos, para toda a vida, com interesses passageiros, e também esquecidos.
Mas eu me dei conta disso justamente num daqueles dias difíceis, dias em que levantar da cama pode ser perigoso e tudo pode desmoronar na cabeça de quem se atreve a levantar os edredons. É, vi que pouquíssima gente sabe que não ando 100% já faz algum tempo.
Tudo bem, eu sei disfarçar legal, não deixo meus problemas entrarem no ambiente de trabalho e, dificilmente, alguém me vê chorando pelos cantos. Sou teimosa demais pra isso.
Mas quem é meu amigo de verdade já deveria ter notado que meus olhinhos castanhos pararam de brilhar temporariamente. Que sou um fantasma por aí, que nem de perto lembro a mesma mocinha do ano passado: empolgada, feliz.
Mas aí é que tá. Nessas horas chatas, dá pra contar nos dedos quem se liga, quem pergunta algo (por mais chato que seja tocar na ferida...), quem se importa. É mais legal ter um milhão de amigos pra balada, pra fofocar divertido, pra fazer coisas legais. Ninguém quer ouvir lamentos. Só os amigos de verdade vêm com a paciência de fábrica, que se renova a cada revisão.
Por hora, tenho uns poucos em quem confio e para quem este texto não serve. São fiéis e entendem o porquê das minhas ausências, das minhas chatices, dos meus desisteresses. Um milhão de amigos para quê? Prefiro a minha meia dúzia que saca quando meu sorriso está triste.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

De tudo um pouco

Eu ainda não falo francês. Mas em breve estarei pronunciando muitas palavras desse idioma que acho lindo desde a infância. De uns tempos pra cá, tenho visto tantos filmes franceses, ouvido músicas e acalento o sonho de conhecer Paris. Mas quero me sentir um deles. Por isso, meu objetivo de agora em diante é falar francês.
Para isso, fiz hoje minha matrícula na Aliança Francesa. Minha mãe me escreve bilhetinhos carinhosos usando palavrinhas que aprendemos em um cursinho rápido, de um semestre. Mas eu quero mais.

...

O que eu disse que viria a seguir, com muitas raivas e ódios passageiros e duradouros, eu explico: mediocridade. Gente mesquinha. Gente sem cor. Gente imbecil. Queria ter um dia de fúria e dizer: fulano, tu és um fraco, um ninguém, um zero à esquerda. Tua ausência preenche uma lacuna. Beltrana, sua pseudo-qualquer-coisa, sem graça, sem cheiro, sem noção. E por aí vai.
Mas não vale a pena. Nessa nova fase da minha vida, que está prestes a começar, e vai começar com o pé direito, tenho certeza, serei apenas contemplativa. Isso. Essas pessoas menores, esses comentários desnecessários, ridículos, a arrogância, enfim, irão para um lugar nenhum. Farei que nem a vó Irene que dizia: "Deixa!" Abaixando a palma da mão, sem se importar com nada. Deixa!

...

Eu devo ter a quem puxar mesmo. Meu pai acaba de voltar de uma convenção de uma das empresas que ele representa aqui. Essas coisas de firma, de gincana, de integração. Até aí, tudo bem. Mas ele é um alemão sério, de poucas palavras e até um pouco desconfiado. De tudo e de todos. Pois acabo de ter a confirmação que ele, com seus 58 anos a serem completados em setembro, pulou de uma altura absurda, como um pêndulo gigante de relógio. Sim, ele teve coragem para isso e andou em todos os brinquedos de um super parque de diversões que tinha no tal lugar.
O que eu quero dizer com isso: surpreender-se. Surpreender aos outros. Se não tivesse ouvido do meu irmão que estava lá, não acreditaria. Tá, o velho pesca, gosta de esportes, mas a adrenalina de tirar um peixe (por mais pesado que seja) da água é diferente de uma queda livre... E o melhor: a criança grande adorou. Parabéns, paizinho.

Primeiro a parte boa

Como estou com uma "raivinha", como diz a Lú Bemfica, de algumas coisas e pessoas, para não ficar um post cheio de ódios (passageiros e duradouros), resolvi escrever sobre algo que me chamou atenção na noite de ontem. A seguir, o post de ódios.

Como minha geladeira estava numa "fartura", fartando absolutamente tudo, resolvi ir ao súper. Pra mim, isso não é um sacrifício, ao contrário, curto horrores, descubro coisinhas e coloco em prática todas as dicas que recebo de economistas domésticos sempre que faço matérias sobre o tema (uma boa é: o produto que está na altura dos seus olhos é sempre o mais caro! faça um esforcinho, se abaixe um tanto, até o chão, até o chão, tipo dançarino de funk, que você vai achar os precinhos camaradas). Mas a absoluta falta de tempo me fez comer mais porcarias que o habitual, recorrer à casa dos meus pais e também pedir comida por telefone.

Percorrendo os corredores ali pelas 19h, vê-se de um tudo. Sério, se alguém da antropologia ainda não pensou nisso, eu me habilito! Carrinhos de supermercado rendem boas pesquisas antropológicas! Sobre o comportamento, o gosto, as manias e as loucuras das pessoas.

Na fila dos frios, achei um tiozinho. Cabeça branca, mas muito bem disposto. No carrinho, baguetes, espinafre, um corte de carne, um vinho chileno, queijo e bombons. Certo que ela ia fazer um agrado para a sua querida!
Adoro cuidar as pessoas no corredor dos chocolates, balas e afins. Todos olham como crianças mas, na hora de passar a mão em alguma coisa e colocar no cesto, a culpa pesa e elas jogam as guloseimas como se atirassem uma droga, algo a ser escondido.
Na fila do caixa, mais um bico em um cestinho. O meu: que ódio essa coisa de solteiro. Tudo sobra, tudo estraga. Alô, alô, indústria de comes e bebes! Há um público e tanto para ser atendido (e bem atendido!).
Eis que tinha pão, frios, uma caixa de leite, uma pêra (uma mesmo! pq estraga tri rápido), mamão e minhas bolachas marias. O chocolate ficou pra próxima.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Voltando às antigas

Eu sempre fui usuária do Trensurb. E tenho histórias incríveis, engraçadíssimas e, inclusive, já fiz uma matéria sobre alguns personagens conhecidos do povo que tem o "Surb" como meio de transporte até a Capital.
Eu gosto do trem. Acho rápido, limpo, mais amplo que os ônibus e até desenvolvi, em anos de uso, táticas sobre como conseguir um lugar pra sentar, onde as portas abrem, e (pasmem!) já tive até mesmo um casinho no trem. Durou da Estação Mercado até a Esteio. Mas foi daquelas coisas rápidas e surpreendentes que a gente encara e depois fica dando risada de si, pela coragem.
Mas voltemos à história de hoje (não se animem com minhas aventuras amorosas! risos). Como estava "na região", precisei voltar aos velhos tempos e pegar o trem. É bom porque na hora do rush tem a cada 4 minutos, tempo de correr pela passarela e se colocar num bom lugar, em condições de disputar um cantinho.
Eis que, sem qualquer informação, deu uma pane e nenhum trem passou. A plataforma entupida de gente ligando para seus chefes (inclusive eu) e reclamando da falta daqueles vagões enfileirados. Desci, peguei minha passagem de volta e encarei um busão. O que me rendeu um atraso de 40 minutos no trabalho e um gasto de R$ 11,70 (por causa do táxi e do ônibus).
Aí, eu lembrei das greves que já enfrentei (sério, os ônibus não têm capacidade para levar a massa de gente que usa o trem), de uma briga de duas usuárias por causa de uma janela aberta (deu soco e tudo!) e das minhas tantas viagens até a faculdade, até o trabalho, o cinema, os encontros na Estação Esteio para ir à Expointer, enfim.
Mesmo com o transtorno de manhã cedo, não fiquei de cara. Foi legal voltar às antigas.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Peteleco

Estava titubeante se deveria ir para casa hoje. Essa chuvinha insistente, chata, deu preguiça até de levantar da cama, que dirá de sair de qualquer outro lugar sequinho, protegido.
Trabalhar pela manhã no dia seguinte me obrigaria a acordar mais cedo por causa da viagem até a firma. E mais todas aquelas desculpas que a gente inventa quando quer se convencer de alguma coisa.
A casa que eu me refiro é a dos meus pais. Eu teimo ainda de chamar de minha casa. Ela fica em outra cidade, próxima, mas parece estar em outro estado quando estou cansada ou em apuros.
A falta de algo interessante na geladeira do meu cafofo também pesou na minha decisão. E a carona de um amigo, providencial, idem.
Enfim, cheguei na casinha.
Ver em cima da minha cama (sim, ela está lá, do mesmo jeito que eu deixei há meses atrás) um presentinho, uns chocolates e minha caneca sobre a mesa da cozinha, pronta para um café quentinho, acompanhado de um belo peteleco (bolo de chocolate que eu comia muito na infância), foi de emocionar. Sério, me senti com uns oito anos.
No livro Mania de Explicação, da Adriana Falcão (eu vou falar nele várias vezes porque adoro e é ótimo!) a menina explica várias coisas, menos a felicidade.
Pra mim, hoje, a felicidade era aquele bolinho e um abraço de mãe.

Não altera em nada

Humildade é que nem canja de galinha: faz bem à saúde. E como tem gente doentinha por aí. É sério e lamentável. Sei lá, a lucidez, um prêmio que o tempo nos dá, faz com que os arrogantes sejam percebidos. Falo especialmente daqueles que escrevem, como eu.
Uma grande matéria pode consagrar. Mas amanhã estará lá, secando a umidade da cozinha ou enrolando banana. Tudo é uma questão de ponto de vista, da forma como a gente encara as coisas. Tudo passa, tudo passará, como diria Nelson Ned.
Um grande lead pode levar horas para ser concebido, mas não precisa muito esforço quando a história que se tem a contar é, por si, formidável.
Pois bem, toda essa enrolação é pra dizer que tem gente que se acha. Acha que escreve, acha que manja do bom jornalismo, acha que pode até ensinar. Isso mesmo. Toda a polidez dessas palavras precedem uma máxima bem conhecida: os medíocres estão soltos. A humildade é artigo raro atualmente.
Enquanto isso, faço minhas as palavras da querida Clarice (assim, íntima), que eu adoro. Pensamos igualzinho! (risos)

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro..."

Por enquanto

É engraçado. Time de futebol tem fases (em que ganha, ou em que é rebaixado), crianças também têm as suas (engatinhar, balbuciar...), governos tem das mais diversas fases (de glórias, de escândalos e tudo o mais que pode acontecer em quatro anos). E há mulheres de fases. Já cantaram isso, inclusive.
Mas o que quero dizer é desta fase que atravesso. (desculpa, Lú, mas por enquanto ainda não vai rolar um post mais prosaico, com impressões sobre a vida, o cotidiano).
Sempre digo que um dia vou virar uma borboleta. Enquanto isso não acontece, tamos aí, tentando aprender alguma coisa. E não fazer grandes bobagens. Uma fase letárgica, eu diria.
Nesse instante, o sono me impede de raciocinar como gostaria, mas logo retomo minha antiga forma. Que diz respeito à minha alegria, à disposição para tudo, ao meu jeito de levar a vida vendo o bom das coisas.
Por enquanto, ainda não sei explicar o que acontece. Espera-se que com uma boa conversa, uma vez por semana, e algum tarja preta, as melancias se ajeitem.
Por enquanto, só por enquanto.

domingo, 27 de julho de 2008

At home

Chuva, preguiça, família, filme, edredon, música. A lista é grande quando trata-se da definição de uma folga ideal. Sou do tipo que detesta domingos, que se deprime quando a noite chega e a expectativa pela semana se aproxima. Mas um dia como hoje merece o marasmo, o nada-para-fazer sem culpa.
Mas também é o dia perfeito para a nostalgia, o saudosismo, aquela saudade de coisas que não voltam, da gente mesmo em tempos distantes. Tem um slogan de cursinho ou coisa assim, que diz: "Você é o resultado de suas escolhas". Num dia como hoje, todas as escolhas parecem ter sido erradas, mesmo que tenham sido as únicas, as menos piores, as viáveis. It's too late.

Trilha: The Magic Numbers

Esperanças...

Enquanto o assunto do momento é o filme do Batman, e a interpretação do Coringa, preferi me deleitar nos últimos finais de semana com dois filmes pesados, impactantes, pungentes.
O Banheiro do Papa e O escafandro e a borboleta me atrairam ao cinema simplesmente pela esperança que ambos os filmes me sugeriram.
Li alguma coisa sobre os dois, mas nunca me baseio muito por sinopses (na maioria das vezes quem escreve aquele resuminho nem assistiu ao filme para poder dizer meia dúzia de palavras que convençam o cidadão a comprar o ingresso).
O primeiro, me fez sentir fraca, derrotista. Não sei se seguiria sonhando com um cenário daqueles, com a completa falta de tudo. Menos de esperança.
O segundo, depois de um AVC muito punk, em que tudo parou menos o cérebro (a lucidez) e o olho equerdo, o cara encontra uma forma de comunicar-se com o mundo.
Se é que posso, recomendo os dois filmes. Não pelas estrelinhas que os críticos conferem, mas porque são histórias que nos fazem sentir pequenos. E me sentindo pequena, vejo que o caminho ainda é longo. Que bom.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Anúncio de jornal

A gente está sempre acostumado a fazer o filé de um jornal: reportagens, grande fotografias, na pretensão de preparar o cardápio de assuntos que os leitores terão à sua disposição ao longo de todo o dia.
Os classificados (a menos que se esteja em busca de emprego/carro/apartamento ou algo assim), vão direto para a pilha que serve para enrolar banana ou secar os tapetes do carro. Os classificados são o chuchu do jornalismo.
Mas tem um anúncio de jornal que eu gostaria de ter escrito (da série "As coisas que eu queria ter escrito" ou "Que inveja porque esta criatura colocou em palavras tão direitinho o que todo mundo pensa, mas que quando diz fica brega"). É, um anúncio. Que sugere uma troca, que alguém quer desfazer-se de algo para ter outra coisas. Assim, simples. Eu adoro esta louca. Tudo o que vejo dela me dá vontade de guardar, como se me abastecesse daqueles devaneios.
Divido com vocês o meu "classificados" favorito:


"PRECISA-SE"
Sendo este um jornal por excelência, e por excelência dos precisa-se e oferece-se, vou pôr um anúncio em negrito: precisa-se de alguém homem ou mulher que ajude uma pessoa a ficar contente porque esta está tão contente que não pode ficar sozinha com a alegria, e precisa reparti-la.
Paga-se extraordinariamente bem: minuto por minuto paga-se com a própria alegria. É urgente pois a alegria dessa pessoa é fugaz como estrelas cadentes, que até parece que só se as viu depois que tombaram; precisa-se urgente antes da noite cair porque a noite é muito perigosa e nenhuma ajuda é possível e fica tarde demais. Essa pessoa que atenda ao anúncio só tem folga depois que passa o horror do domingo que fere.
Não faz mal que venha uma pessoa triste porque a alegria que se dá é tão grande que se tem que a repartir antes que se transforme em drama.
Implora-se também que venha, implora-se com a humildade da alegria-sem-motivo. Em troca oferece-se também uma casa com todas as luzes acesas como numa festa de bailarinos.
Dá-se o direito de dispor da copa e da cozinha, e da sala de estar.
P.S. Não se precisa de prática. E se pede desculpa por estar num anúncio a dilarecerar os outros. Mas juro que há em meu rosto sério uma alegria até mesmo divina para dar.
Clarice Lispector

O que eu queria dizer

Tem textos que a gente lê e sente aquela coisa: "Putz, eu queria ter escrito isso." O pior é que acontece freqüentemente, especialmente se o leitor opta por Gabriel García Márquez e tantos outros. Sempre que leio esse poema de Fernando Pessoa (inclusive já enviei para pessoas tão inquietas e angustiadas com a vida quanto eu), me parece que as coisas ficam menos pesadas, menos impossíveis. Divido com vocês...


Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

A estréia

Como toda boa estréia, essa também vem cheia de expectativa: será que este será um blog sem leitores? será que isso com o tempo vira um diário virtual? será que vou ter mesmo o que dizer para tantas atualizações? Que se dane.
O povo dos blogs - os mesmos que um tempo atrás eu criticava dizendo que é coisa de quem se acha muito importante para acreditar no interesse dos outros por suas palavras, e, sobretudo, que tem tempo sobrando - acabou me convencendo. Sucumbi a este meio de comunicação. Mas não tenho a pretensão de fazer sentido, de sugerir coisas, de produzir algo excepcional.
Por isso Bonecas Russas. Uma dentro da outra, sempre uma supresa, sempre um mistério, sempre uma expectativa.
Sejam bem-vindos!