domingo, 17 de agosto de 2008

Não vale a pena ver de novo

Eu disse aqui neste espaço esses tempos, que citaria seguidamente trechos do livro da Adriana Falcão, o Mania de Explicação. Adoro este livro. Já comprei uns três para dar de presente e também tenho o meu exemplar. As ilustrações são uma graça. Eu digo que é um livro para crianças grandes (sim, você tem que procurar nas prateleiras da seção infantil das livrarias).
E hoje, este texto é baseado em uma das tantas definições que a menininha criada pela Adriana inventa para tentar explicar o mundo.

Lembrança: é quando, mesmo sem a sua autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.

O problema é quando o mesmo capítulo vem sendo repetido sem parar na cabeça da gente. Quem já não ficou com uma coisa martelando, uma cena, revivendo uma situação de olhos fechados? Eu ando com várias na cabeça. Parece que elas me impedem de viver outras cenas da minha própria vida. Ui, sai pra lá. Mas essas reapresentações estão grudadas, não querem sair.

Nas lembranças boas, o que vale é prorrogar o bem-estar do que foi vivido, repetir como se tivesse um controle remoto passando e repassando as cenas, selecionadas. Nas ruins, é bem aquela coisa de louco: repetir milhares de vezes para achar o erro e tentar desculpá-lo, ou para se certificar de que as pessoas fizeram mesmo o que fizeram e sua reação não foi aquela que você esperava.

O fato é que coisas e pessoas que já não importam estão fazendo festa na minha cabeça. Essa gente vem, se instala e eu não consigo expulsá-los. Assim como as situações. Parece que estou vivendo um Vale a Pena Ver de Novo sem ter sido consultada.

Agora, por exemplo, estava lembrando o que eu fazia há um ano, num domingo desses de agosto. Sei direitinho: dormi até mais tarde porque tinha ido a um aniversário na noite anterior. Almocei com minha família toda em um restaurante da Zona Norte. Fazia um dia lindo, ensolarado. À tarde, recebi duas pessoas em casa e fomos ao cinema. O filme era Os Simpsons. Depois, café e conversas. No fim do dia, quando já chovia e era noite, jantamos em um restaurante árabe.
Eu pergunto: por que isso ainda está aqui assim, tão claro, com tantos detalhes? A cena não importa mais, as pessoas já não importam mais, eu já não me importo mais com nada disso. Não vale a pena ver de novo.

Assim como a minha casa, acho que minhas idéias precisam de uma faxina... Isso. Uma limpeza geral no computadorzinho aqui. Não tem mais espaço pra coisas novas, coisas boas.
Vou preparar baldes e panos.

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